segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Óleo de fígado de bacalhau

O óleo de fígado de bacalhau é, como todos sabemos, uma desgraçada fatalidade que, um dia, mais tarde ou mais cedo, se cruza ou cruzou com a nossa infância, num cruzamento digamos que amargo e inesquecível, mas, felizmente, penso que também à luz de uma questão geracional.
A minha geração, felizmente, escapou por um triz a essa fatalidade com intenso sabor a entranhas de peixe podre, e conheceu-a apenas já sob a forma de xaropes com aroma ou, maravilha das maravilhas, sob a forma limpa e inócua de cápsulas. O problema, meus amigos, reside agora na gestão (e não necessariamente na ingestão) da cápsula. Que pode ser muito infeliz e dramática, digo-vos já.
Para vos poupar a descrições escatológicas de sabores hediondos (a questão do peixe podre, lá está), vou só aconselhar-vos a não (in)gerirem a cápsula como se fosse um rebuçado, deixando-a derreter e tomarem contacto com o líquido, como eu inadvertidamente fiz. Posto isto, nem sei como não encontramos o óleo de fígado de bacalhau naquelas exposições de instrumentos de tortura, porque enfiar aquilo pelas goelas abaixo acho que pode ter um diabólico potencial persuasivo. Os nossos avós tinham razão, aquele óleo é, de facto, o demónio para quaisquer papilas gustativas.

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