terça-feira, 30 de novembro de 2010

Um homem interessante

Definitivamente, não é um sedutor: é alguém que age com naturalidade. Não precisa de ser bonito, mas tem ser atraente. É culto, sabe conversar e tem um fino sentido de humor (ironia).
É modesto - rara virtude. É intenso e viril interpares, mas, ainda assim, sabe ser educado e delicado no trato com uma mulher.
Não expõe gratuitamente a sua vida, as suas demonstrações de afecto ou os seus problemas: sabe gerir a fronteira entre o público e o privado.
É alguém generoso, não é auto-centrado - faz um elogio a uma mulher, com elegância, mas com simplicidade.
Tem alguma maturidade (a que for possível), embora conserve aquele brilho infantil que se torna irresistível no sexo masculino.

Enfim, é um homem raro.

Do tempo (3)




Entardecer no Magreb

O Mediterrâneo mesmo em frente: uma presença apaziguadora e reconfortante. Está ali. Translúcido, intenso, eterno. Mare Nostrum. E há a limpidez azul do céu. Mar e céu, como dois amantes sobrepostos.

E tudo é quente e doce e calmo. No entardecer melancólico, os pássaros, pontualmente, às seis da tarde, quebram a quietude geral ao recolherem-se nas árvores com voos e cantares quase ensurdecedores. Música e espectáculo imperdíveis.

Quando está quase a cair a noite, o ar é morno. E de veludo. Docemente morno, agitado por um vento doce e seco. Ar seco, como pó dourado. Seco como as palmeiras e as tâmaras, como a pele das pessoas do deserto, como as cores térreas das casas que nos rodeiam. Tons ocres e rosados, que combinam com a calidez dos pôres-do-sol. Só os sons do ud, a entorpecer-nos os sentidos, contrastam com a aridez suave e boa deste quadro.

Fins de tardes que convidam a mil e uma noites.



segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Place Vendôme

E depois há aquelas pessoas que um belo dia acordam e constatam que se tornaram numa espécie de montras da Cartier ou da Bvlgari, na Rue des Capucines, perto da Place Vendôme.
Toda a gente olha para elas. Ninguém pode comprar.

domingo, 28 de novembro de 2010

sábado, 27 de novembro de 2010

Frivolidades





Perdoem-me a frivolidade, mas, de vez em quando, é preciso fazer jus ao título do blogue. Para muitas mulheres, a obsessão é o calçado. A minha, é outra.

Sobretudo de Inverno: boinas, chapéus, gorros, uma prodigalidade.

De Verão, o meu desgosto é o de não ter comprado há dois anos um destes brancos com fita preta, e agora não os encontrar em lado nenhum.




Un film tellement Art Déco que c'est un amour (Ou: Pfeiffer Fiftie Fuckin Two)

(Pardon my french.)






Chéri, de Stephen Frears (2009)

Testosterona de luxo #18

Vincent Perez

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Musa expiadora

A que sana, expurga e expia os projectos dos outros.

Musa aspiradora

A que suga os projectos dos outros.

Musa expiradora

A que, sem querer, desvirtua os projectos dos outros.

Musa inspiradora

A que impulsiona os projectos dos outros.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Fusões felizes

Às vezes, esta ideia (ironicamente) ocorre-me quando estou nos provadores da Zara, essa deliciosa catedral capitalista do consumo de vestuário desnecessário.
De facto, vivemos na cultura do consumismo e para isso somos impelidos
subrepticiamente, sobretudo nesta época natalícia. Aliás, estamos todos a embrutecer, de tanto que compramos e tão pouco que estimulamos outras aquisições, como o saber e a cultura.

Mas, caramba, eu acredito que tudo isto teria solução, porque as pessoas comem o que se lhes põe à frente.
Por exemplo. Os húngaros nos tempos da Cortina de Ferro. Não tinham centros comerciais, não iam a cafés, a televisão era pura propaganda audiovisual. Ao invés disso, ao pequeno-almoço tocavam Paganini ou Dvorak, e liam Goethe e Feuerbach ao jantar.

E eu fico a pensar (enquanto olho para famílias que levam carrinhos de compras gigantescos como se o Mundo fosse acabar amanhã) se não será possível um caminho intermédio, um equilíbrio algures entre Dvorak e a Mango ou o Corte Inglès. Algures entre o consumismo exagerado e o cinzento do comunismo.
Não era tão bom que houvesse fusões felizes? (como quando os Metallica tocaram com a Orquestra Sinfónica de S. Francisco. Tão bonito.)

Regresso sempre a Copenhaga (e a Kierkegaard, claro)

Uma cidade que pode ser divertida, como se verifica nesta foto:

E até mesmo romântica (vês, SØren? Estes dois podiam ter sido vocês: "Kierkegaard + Regina Olsen luv U 4 ever"):


Fifties (4)

Laetitia Casta (outra Balzaquiana; e mother of three) desfila para a Louis Vuitton (2010).

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Urgente (e pedagógico)

Quando oiço o nosso primeiro ministro dizer que Portugal não precisa de ajuda de ninguém, só tem é que resolver alguns problemas internos, lembra-me aquelas mulheres que fingem (que coisa tão feia, fingir) para os seus parceiros não ficarem com o orgulho ferido.
Em ambos os casos é grave. Compõe-se toda uma mise-en-scéne que é falsa, apenas para não comprometer uma performance medíocre.
Assim, não, meus amigos. É urgente (e pedagógico) reconhecer os problemas e colocar o dedo na ferida (ou onde for necessário).

terça-feira, 23 de novembro de 2010

In your faces, Sartorialist, Sorrenti, Testino e Kierkegaard.


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Antes da islamofobia instantânea

Despertou atenção quando ganhou o Prémio Nobel da Paz, em 2003. Shirin Ebadi, mulher, mãe, juíza, iraniana, muçulmana, defensora dos direitos humanos, autora de “O Despertar do Irão”, um livro que alguns como eu levam anos a tentar acabar (nem sempre se tem disponibilidade mental para uma narrativa emocionalmente intensa e violenta embora simples e interessante). Que não me curo deste estranho interesse pelo Irão, já se sabe.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mark Zuckerberg likes this


O nerd que nunca mais terá problemas em engatar miúdas. (Terá outras dores de cabeça, certamente.)

Cuba (revisitada pelos cinco sentidos)


Muita gente conhece a Cuba corriqueira de Varadero, vendida ao turismo massificado, a ilha dos resorts. Mas poucos provaram de uma verdadeira noite cubana.

Sentados em cadeirões de vime, na varanda de uma casa de estilo colonial, uma daquelas que têm eterna imponência decadente. A sentir o calor húmido e sufocante na pele, choveu há pouco tempo, ao entardecer. Aquele calor que solta sensualidades latentes.

O sabor agreste do rum na boca, que embriaga a desenvoltura. O cheiro doce e envolvente do puro que se fuma, paira no ar.

Vê-se pouco, à luz escassa da lua (vê-se o essencial: a visão é overrated). Mas se se apurar o ouvido, da varanda, ainda se consegue distinguir o som do desenrolar das ondas lânguidas lá em baixo, e, lá ao fundo, também se ouvem as notas desta música.

A eterna música que é a gota (de suor) que falta para transbordar no copo deste puzzle tropical nocturno.



...that vanity and happiness are incompatible

As Ligações Perigosas, de Stephen Frears (1988).

domingo, 21 de novembro de 2010

Directamente

The Duchess, de Saul Dibb (2008).


(Georgiana) - Pensas em mim, quando não estou presente?

(Charles) - (...)

(Georgiana) - Hesitaste.

(Charles) - Não, eu penso em ti. Mas não estou habituado a que me perguntem isso directamente.

Jardins de música

Já falei aqui várias vezes da Irlanda, não foi?


(Do avisado Ega, uma vez mais).

Centenário da República



Podia ser o 5 de Outubro, 1910-2010, implantação da República Portuguesa.

Mas não é.

É mais um aniversário (todos os anos centenário) de uma república de estudantes.

(O que se vê na foto e parece que é, é mesmo.)

sábado, 20 de novembro de 2010

Ciumeira da Nata

Em boa verdade vos digo que os detractores da Cimeira da NATO têm é dor de cotovelo de certa "nata política" que só visto.

Não há nada a que não se possa juntar um “caralho”

«Não há nada a que não se possa juntar um “caralho”, funcionando este como verdadeira muleta oratória.» Do Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa (via Ega).

Muletas dessas, de facto há muitas. Não há nada (nem ninguém) que não se possa apoiar nelas.
(Ainda bem que não fui para Direito.)

Porque é preciso darmos tréguas a nós próprios








Tudo isto é Powerscourt. E tudo isto são tréguas.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Cópia certificada


É uma proposta diferente, alternativa, criativa. Não me importava de, juntamente com um homem interessante, fingir durante um dia inteiro que formávamos os dois um casal. E esta é, basicamente, a sinopse deste filme de Abbas Kiarostami, com a Julliette Binoche. Tenho que ver isto.

Será que não podemos esquecer a emancipação feminina e os direitos das mulheres só por um segundo?


Sheik Hamdan, do Dubai

Ou: de como o binómio "belo e extremamente abastado" pode ser tentador (e, direi mesmo, diabólico).

Bellucci: maturidade e alguma inteligência


Monica Bellucci foi entrevistada pela Paris Match (Via French Kissin). Eis alguns excertos que eu destaco:

“La nature féminine est un abandon sans forme de résistance.” J’aime beaucoup cette phrase... C’est drôle, parce que j’ai écrit une préface et je parle justement de ça, de cet abandon nécessaire, de ce mélange d’abandon et de créativité qui est une forme de ­féminité, de confiance en la personne qui est derrière l’objectif ou la caméra.

Je n’ai jamais vécu la beauté comme un poids, parce que je sais bien que cela ne va pas durer, mais je ne crois pas que je vais vivre ­douloureusement le temps qui passe... La vie me fera découvrir d’autres choses. Sortir d’une espèce de carapace que donne la beauté. Sortir de la beauté biologique de la jeunesse. Je dois être prête à la voir partir. Avoir des enfants aide. J’ai envie d’être une femme bien dans sa peau avec le temps qui passe.

Il y a l’amour, on est ensemble depuis plusieurs années, la passion est là, toujours, sinon la vie est triste. Après, la passion se transforme en quelque chose de plus ouvert vers l’extérieur, sinon cela reste quelque chose d’enfantin. L’amour, au début, c’est un état d’ébriété qui est intéressant à condition d’évoluer sur autre chose.

Chaque âge a son charme.

Mais les images, ce n’est pas toi qui les crées, elles échappent au contrôle. C’est quelque chose qui ne t’appartient pas. Ils font ce qu’ils veulent de ça. C’est pour cela qu’il est très important de ne pas avoir une relation trop proche de son image. L’image, c’est aléatoire, chacun prend et fait ce qu’il veut avec. Il faut apprendre à faire la différence entre l’image et soi.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Fifties (3)



Fifties (2)






Fifties



Todos sabemos que Mona Lisa Smile (2003) é um filme fraquinho e muito mauzinho. Mas esteticamente ele está bem. Lembrei-me disto na sequência da actual febre com a série Mad Men, e de como, a partir dela, o espectacular estilo fifties se começou a definir como tendência de moda.

Mona Lisa Smile é um filme simples com um casting acertado. Acima de tudo, em termos de rostos. Todo o filme é um gineceu de rostos certos.

Ao contrário da nossa época, em que o culto e a importância do corpo são exacerbados, na época em que o filme se enquadra a exposição física feminina era menor (embora muito bem vincada). Portanto, o que sobressai são os rostos.

Assim, exceptuando a presença da Julia Roberts (obviamente, um erro de casting), todas as outras personagens femininas revelam estética e fisicamente uma perfeita harmonia com o ambiente dourado dos anos 50 ali recriados.

Não há fisionomias mais fifties que estas da KirstenDunst (a conservadora), Maggie Gyllenhall (a judia liberal), Laura Allen, e sobretudo da Ginnifer Goodwin (a ingénua) e da(sensata) Julia Stiles (esta última tem sido algo subvalorizada como actriz).




quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Let's dance, darling (Boogie Woogie)

Let's dance, darling (Swing)


Let's dance, darling (Charlston)


Não gosto de dançar, mas, assim de repente, imagino-me a dançar isto com o Nelson Évora

Dançar, em 2010

Nunca gostei da forma como hoje em dia se dança (sem prejuízo para o facto de eu própria já ter dançado milhares de vezes da forma como mais adiante vou descrever).

Ou seja, a forma como se dança mais ou menos desde os anos 70 ou 80: as pessoas abanam o corpo e a cabeça e deixou-se de se dançar a pares, o que é uma tristeza porque favorecia a conversa, a proximidade e ocontacto físico com o sexo oposto, e com um belíssimo pretexo: a dança.

Com as mudanças sociais e a emancipação feminina, a dança desestruturou-se, deixou de haver o convite formal para dançar a pares (que acabou para aí com o twist na década de 60), e começou-se a dançar à maluca como os hippies em Woodstock, a febre do disco sound, punks dos eighties… e foi até hoje.

(Ah e tal, mas tens a valsa e kizomba e a salsa e essas coisas latinas que agora andam para aí na moda. ALTO! Abomino danças de salão. Alémde fazerem do par masculino uma entidade ligeiramente grotesca e efeminada, são, justamente, para um “ambiente artificial”, ou seja, só se dança assim em contextos específicos.)

Portanto, tirando as danças de salão e “étnicas” (chamemos-lhes assim), temos, essencialmente, a forma como hoje se dança nas discotecas. Ou seja, uma coisa que, vista de fora, é altamente ridícula (mais uma vez, contra mim falo, pois também ando nestas figuras às vezes), e que se resume assim:

- As mulheres formam um círculo ou semi-círculo e sacodem-se e saltam que nem doidas, voltadas umas para as outras e de costas para os homens;
- Os homens, menos histéricos e com um copo na mão, formam uma fila ou um semi-círculo exterior ao das raparigas, e abanam-se ligeiramente ao som da música, com uma proximidade estudada para dupla finalidade: avaliarem os rabos delas e estarem atentos à eventual oportunidade de se roçarem nelas.

De modo que me parece tudo muito idiota e é uma pena enorme. E tenho secretamente um grande desgosto de já não se dançar como nos anos 20 o charlston, nos anos 40 o swing, ou nos anos 50 o rock ou o boogiewoogie. Danças frenéticas, ritmadas, fixes, pá! Que davam para ambos os sexos dançarem em grupo, mas sempre a dois.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Do polvo que é a indústria farmacêutica

O Fiel Jardineiro (2005), de Fernando Meirelles.


Ficar doente em países árabes pode ser um aborrecimento. Para já, porque não se pode fazer mais nada a não ser ficar em casa a ver telenovelas do MBC arabic channel. (Não queiram ter esta experiência. São tão más, que exercem sobre nós um terrível fascínio e damos por nós viciados e a querer saber qual é a cor do hajib que a Khadijah vai usar ou se a Nahzirah se vai vingar do sogro. Ainda por cima, alguns fulanos dos Emiratos são mesmo bonitos. Hum. Adiante.)

Ah, mas não tem que ser um pesadelo. Quando se pensa que nos vão trazer um curandeiro e mezinhas feitas com derivados de camelo (tão eurocêntrica) descobre-se que afinal nos trazem um cocktail terapêutico de medicamentos da Pfizer, da Sanofi-Aventis, GlaxoSmithKline, Janssen-Cilag. E sentimo-nos logo em casa.