quarta-feira, 13 de junho de 2007

Cansei de ser sexy

Um belo dia, cansou-se. Foi quando descobriu esse curioso projecto musical de umas miúdas brasileiras, num voo intercontinental, e se identificou com o nome.
Estava cansada de vida plástica. O corpo, mero objecto maleável ao serviço da criatividade e rasgo artístico dos outros. Um cabide humano, no final de contas, maquilhado de glamour, disfarçado pelo verniz superficial das festas privadas pós-desfile. Cansada dos castings humilhantes, das rivalidades de bastidores, do book incessantemente submetido a apreciação. Fatigada, trés fatiguée, das escalas em Heathrow, em Frankfurt, em Fiumicino, no Charles de Gaulle. Da vida pessoal dobrada na mala sempre pronta a partir, da vida social perdida no tráfego aeroportuário e nos fusos horários. Da luz opressora dos projectores dos estúdios fotográficos. A pose, a pose. Strike the pose. As cidades do mundo que desfilam pela impessoalidade das janelas dos quartos de hotel, um windowshopping de cosmopolitismo. Os países que nunca há tempo para visitar. A tirania do tempo – contra-relógio – numa actividade de desgaste rápido.
Cansou-se num voo de longa duração, e esse foi o seu verdadeiro regresso a casa.

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